
Manaus será palco, neste mês de abril, da estreia do espetáculo de dança Ancestrais, idealizado, dirigido e interpretado pela professora, produtora cultural e multiartista Cléia Alves. A primeira apresentação acontece no dia 27 de abril, às 10h, durante o tradicional Pagode do Quilombo do Barranco de São Benedito, no bairro Praça 14, integrando a programação em homenagem a São Benedito.
Fruto de uma pesquisa iniciada em 2021, o espetáculo foi contemplado pelo Edital Macro de Chamamento Público nº 002/2024, da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB). A iniciativa conta com apoio do Ministério da Cultura e do Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa.
Dança como resistência e memória
Mais do que uma apresentação artística, Ancestrais é um ato político. A obra aborda temas como identidade, ancestralidade e pertencimento, com o objetivo de provocar reflexões sobre o avanço da intolerância religiosa, do racismo e da marginalização cultural no Brasil.
“Falar sobre identidade, ancestralidade e pertencimento é um ato político no Amazonas. A minha arte é um grito de resistência”, afirma Cléia Alves.
A narrativa do espetáculo é construída por meio de danças tradicionais afro-brasileiras, como capoeira, samba, maracatu e dança dos orixás, mescladas a elementos como percussão, poesia e cantos afro-religiosos. A proposta é levar o público a uma imersão sensorial nas memórias e vivências dos povos negros e originários.
Com forte atuação no ativismo cultural, Cléia Alves é conhecida por valorizar as manifestações afro-amazônicas. Em sua trajetória, acumula passagens por grupos de maracatu, samba de roda, hip hop e movimentos sociais, como o Fórum Permanente de Mulheres de Manaus e o Fórum das Mulheres Afro-ameríndias e Caribenhas.
Circuito pelo Amazonas
O espetáculo percorrerá comunidades quilombolas e espaços culturais de Manaus e do interior do estado. Após a estreia na capital, a próxima apresentação será em 11 de maio, na Comunidade Quilombola Sagrado Coração de Jesus Lago de Serpa, em Itacoatiara, às 10h.
Confira a programação completa:
- 27/04 – Quilombo do Barranco de São Benedito (Praça 14) | 10h
- 11/05 – Comunidade Quilombola Sagrado Coração de Jesus (Itacoatiara) | 10h
- 14/05 – Escola Estadual Cacilda Braule Pinto | 9h
- 20/05 – Universidade do Estado do Amazonas (ESAT – Praça 14) | 16h
- 29 e 30/05 – Teatro da Instalação | 19h
As apresentações no Teatro da Instalação terão entrada gratuita e serão seguidas por rodas de conversa com o público. A obra conta com apoio de diversas instituições, entre elas a Associação de Crioulas do Quilombo do Barranco de São Benedito, a Comunidade Quilombola Sagrado Coração de Jesus Lago de Serpa, a ESAT/UEA e a Escola Cacilda Braule Pinto.
Depoimentos que reforçam a potência do projeto
Thyene Viana, produtora e assistente de coreografia do espetáculo, destaca a relevância de participar da criação: “É uma experiência magnífica estar ao lado de uma mulher afro-ameríndia com 40 anos de trajetória. Como assistente de coreografia, busco sempre entender seus objetivos, fazer anotações e contribuir para o aperfeiçoamento da obra”.
O mestre de capoeira KK Bonates define Ancestrais como “uma singela beleza da uni multiplicidade do ser humano”. Já a professora e bailarina Francis Baiardi, responsável pelas rodas de conversa, elogia a entrega da artista: “Cléia apresenta suas memórias afetivas com uma verdade que emociona e nos faz refletir sobre uma escuta sensível do planeta e de seus ancestrais”.
Mais que arte, um manifesto
Ancestrais se afirma como um manifesto artístico e social. Um convite à reflexão sobre o passado, o presente e o futuro das comunidades negras e indígenas da Amazônia, ressaltando o papel da arte como ferramenta de resistência e transformação.