
A exposição “MIA – Passado, presente e futuros”, do Museu Itinerante da Amazônia, desembarcou em Manaus com uma proposta instigante: provocar reflexões sobre como as cidades amazônicas vêm sendo construídas e os impactos crescentes das mudanças climáticas na vida da população. A mostra, que teve início em Belém (PA), seguirá para outras capitais brasileiras, como São Luís, Brasília e Rio de Janeiro, ampliando o debate sobre o futuro urbano da região.
Fruto de uma parceria entre o Laboratório da Cidade, com sede em Belém, e a organização Oca Amazônia, a exposição reúne obras artísticas e materiais audiovisuais desenvolvidos com a participação de pesquisadores e artistas locais. Um dos destaques é um vídeo produzido a partir de um estudo sobre áreas urbanas sem arborização em Belém, que vem sendo adaptado para cada cidade que recebe a exposição. A produção propõe novos olhares sobre o urbanismo amazônico e convida o público a imaginar cidades mais humanas, verdes e adaptadas à realidade regional.
Segundo Jade Jares, gerente de projetos culturais do Laboratório da Cidade e curadora do projeto, a ideia do MIA surgiu em 2022, como um museu a céu aberto para marcar o Dia da Amazônia. “Em 2023, o projeto ganhou um formato mais interativo e voltado para ouvir a população. Queremos entender como nossas cidades foram construídas, como ainda repetem modelos europeus que não funcionam aqui, e de que forma os saberes dos povos originários podem inspirar um novo caminho”, afirma.
A abertura da exposição contou com um bate-papo sobre o tema “COP30 e as cidades amazônicas”, conectando os conteúdos da mostra ao evento internacional que será realizado em novembro, em Belém. Para a visitante Tatiana Lobão, que estava de passagem por Manaus, a experiência foi marcante: “A exposição mostra de forma muito clara como as mudanças climáticas afetam mais intensamente as populações vulneráveis. Quando até andar de ônibus ou bicicleta se torna inviável por conta do calor e da falta de estrutura, fica evidente que o planejamento urbano precisa mudar”, comentou.
Além de chamar atenção para a ausência de áreas verdes e os problemas de infraestrutura, as obras também denunciam situações críticas, como rios urbanos transformados em esgoto a céu aberto e a substituição de natureza por concreto, vendidos como sinal de desenvolvimento. “Não dá mais para continuar repetindo um modelo urbano que ignora as particularidades da Amazônia. Precisamos repensar tudo isso com urgência”, reforça Jade.
Mais do que uma exposição artística, o MIA se apresenta como um espaço de diálogo com a sociedade e os gestores públicos. Com a proximidade da COP30, o projeto busca não apenas emocionar, mas também influenciar políticas públicas e inspirar novas formas de pensar e viver nas cidades amazônicas. “Nosso objetivo é que a exposição vá além da contemplação e realmente contribua para decisões que transformem o nosso futuro urbano”, conclui a curadora.
A visitação é gratuita e segue até o dia 29 de abril, no Palacete Provincial, no Centro de Manaus. O público pode conferir a mostra de segunda a sábado (exceto às quartas-feiras), das 9h às 15h.