
Donald Trump assumiu seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos na última segunda-feira (20) e, logo no início, já começou a implementar mudanças significativas via decretos, cumprindo promessas de campanha. Entre os temas prioritários estão alterações nas políticas de imigração e a saída de acordos internacionais, como o Acordo de Paris e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
No entanto, um dos principais questionamentos gira em torno da condução econômica da nova administração. Quais medidas podem ser esperadas e como elas impactarão o Brasil?
Mudanças econômicas no governo Trump
Inflação e tarifas sobre importações
Uma das promessas de Trump durante a campanha foi aumentar as tarifas sobre produtos importados, com alíquotas que variam entre 10% e 20%. Essa política pode atingir diretamente exportadores brasileiros. Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com mais de US$ 40 bilhões em produtos adquiridos em 2024, atrás apenas da China (US$ 94 bilhões).
O impacto pode ser duplo: de um lado, as exportações brasileiras podem perder competitividade, reduzindo a oferta de dólares no país. Isso pressionaria a balança comercial, que em 2024 registrou superávit de US$ 74,55 bilhões, ajudando a controlar a alta do dólar, que foi de 27%. A queda nas exportações poderia intensificar a inflação no Brasil.
Por outro lado, Trump planeja tarifas de até 60% para produtos chineses. Com isso, a China pode buscar mercados alternativos, como o Brasil, afetando a indústria e o varejo nacionais com uma concorrência mais acirrada.
Redução de impostos domésticos
Outra proposta de Trump é reduzir os impostos internos para estimular a economia e a indústria dos EUA. Embora possa impulsionar o mercado local, isso também gera preocupações sobre a capacidade do governo americano de cumprir com sua dívida pública, o que pode levar o Federal Reserve (Fed) a aumentar os juros.
Com taxas americanas mais altas, países emergentes, como o Brasil, podem se tornar menos atrativos para investidores, provocando fuga de dólares. Esse cenário pressionaria ainda mais o real e poderia resultar em aumento da inflação doméstica.
Para conter essa desvalorização, o Banco Central do Brasil pode ser forçado a elevar a taxa Selic. Atualmente, o mercado financeiro projeta que a Selic termine o ano em 15%, com reduções graduais para 12% em 2026 e 10,25% em 2027. Porém, juros acima de dois dígitos por um período prolongado podem frear o crescimento econômico e gerar impacto no mercado de trabalho.
Energia e meio ambiente
O governo Trump deve eliminar restrições sobre petróleo, gás natural e carvão, além de ampliar a produção de energia, incluindo fontes nucleares. Essa política energética pode, em um primeiro momento, beneficiar o Brasil, já que estimularia o setor de óleo e gás e ampliaria as exportações brasileiras para os EUA.
Entretanto, o Brasil também poderia se posicionar como líder na agenda climática global, aproveitando sua crescente aposta em energias renováveis. Há, contudo, receios de que o governo Trump dificulte iniciativas internacionais de transição energética, como o mercado de carbono.
Impactos no Brasil
Especialistas destacam que as mudanças climáticas e a postura dos EUA em relação ao meio ambiente também podem influenciar a economia brasileira. Segundo Lucas Pereira Rezende, professor de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG): “Além dos impactos econômicos derivados das mudanças climáticas que já estamos sentindo, como a alta da inflação de alimentos, novas consequências podem surgir a curto, médio e longo prazo devido à mudança de postura do governo dos EUA”.
Diante dessas incertezas, o Brasil precisará buscar alternativas para mitigar os possíveis impactos econômicos e climáticos trazidos pelo novo mandato de Donald Trump.